Damos início nesta quarta-feira ao santo tempo da Quaresma. A Igreja, cobrindo-nos de cinzas na Liturgia de hoje, diz a todos os fiéis: Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris — somos pós e ao pó hemos de voltar. A Quaresma começa, portanto, com uma recordação clara da morte, da nossa fragilidade, da fugacidade da vida presente. Amputados daquele que é Vida e raiz da vida, Deus excelso, o único que nos resta é a podridão do caixão. Mas essa morte que agora ocupa nossa meditação dará lugar, dentro de poucos dias, à Páscoa da Ressurreição, quando Cristo, depois de imolar-se no altar da cruz para reparar a honra divina ultrajada pelo pecado, ressurgir glorioso dentre os mortos. Essa morte, vencida por Cristo, foi anunciada como castigo a nossos primeiros pais, caso transgrediram o mandamento divino; essa mesma morte, nas palavras do Apóstolo, é o salário do pecado, que tem o poder não só de corromper o nosso corpo físico, mas de afastar a nossa alma de Deus, tornando-a como um rio seco, incapaz de receber o influxo vital de sua fonte.
A morte física, nesse sentido, não é mais do que uma pálida imagem de uma morte ainda mais terrível: a condenação eterna daqueles que partem deste mundo privados da graça divina. Por isso, o fato de termos sido castigados com uma vida que chegará, queiramos ou não, ao fim, deve ser motivo de consolo, já que nos permite aproveitar todo o tempo de que ainda dispomos para, combatendo o nosso egoísmo, preparar bem a nossa morte, a fim de, uma vez livres do nosso corpo mortal, comparecermos diante de Deus limpos de toda culpa e ornados de graça e santidade. Que a penitência quaresmal nos ajude, pois, a lutar contra o pecado e a aproximar-nos daquele que é nossa vida e ressurreição.
Fonte – https://padrepauloricardo.org/episodios/quarta-feira-de-cinzas-inicio-da-quaresma